domingo, 1 de agosto de 2010
Sem espírito de decência
Uma noite, com nada pra fazer, eu dei uma surtada. Comecei a observar beeem de perto, bem mesmo, quase virando os olhos, o pano da minha coberta velha. Vi que ali tinha vários buraquinhos pequenos entremeados e separados por linhas finas. Quando dei por mim eu tinha pegado algum objeto que não me lembro qual, e arrebentei uma paredinha de linha, transformando dois buracos em um maiorzinho. Daí pra frente, a surtada foi pior.
Cheguei a conclusão de que cada buraquinho ridiculamente pequeno representava uma vida, e que eu tinha destruído duas vidas que se concentrava no seu quadrado, rompendo uma de suas paredes. Eu sou um monstro, porque as vidas que destruir, uma era minha e a outra não sei de quem (torço pra que não conheça, pois aí o remorso será menor) e tudo isso só por ter feito uma má escolha, ou só por capricho. Mas meu sentimento egoísta veio a falar mais alto, fazendo com que eu pensasse apenas na minha vida que havia destruído. Me odiei pelo resto da noite. Me chamei de idiota e fraca por ter feito isso comigo mesmo.Mas o que me restava a fazer? Dormir e esquecer toda essa bobagem? Sim, era exatamente isso que eu tinha que fazer. Se eu fiz? Sim, eu fiz. Mas com toda certeza eu vos digo que dia após dia eu penso em uma maneira de costurar a linha perdida, a linha rasgada com imprudência. Ainda não descobri como, pois se tratando de vida, é complicado dizer e fazer certas coisas, e se tratando de mim, é pior ainda, porém aceito sugestões de “alta costura” de alguém que também já foi corrompido por si próprio, ou por algum outro idiota. Obrigada.
Érika Cruz
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