sexta-feira, 20 de novembro de 2009

' O Monstro


Entre as paredes e diversos seres que passam despercebidos, encontra-se o monstro de aparência desconhecida pelo fato de nunca mostrar seu rosto, tampado por um conjunto único de chapéu apontado pra lua e sobretudo quase arrastando ao chão, ele se camufla entre as ruas escuras fazendo-se despercebido, o movimento é constante, há varias presas de fácil captura caminhando sem notar o cheiro da morte exalado daquele estreito beco, um cenário ideal pra saciar a sede de sangue da criatura, mas porque não se move? Por que não ataca? A longa capa de cores escuras que deixam entrever apenas os olhos fixos de certa calmaria forma uma perfeita arma de sedução praquele que possui movimentos frios e calculados. Com destreza a sua  presa foi escolhida, e por sinal era muito linda e indefesa, e num único movimento a tinha em suas garras, que a forçava contra a parede, sem reação, de olhos arregalados tentando entender e ao mesmo tempo respirar através daquela mão que pressionava sua boca a fim de evitar qualquer grito que comprometesse sua posição, ele se deixa mostrar nervoso, sua atenção se desvia, algo não corre bem... Cores, pessoas,lugares, perfumes, lembranças profundas, nada disso o pertencia mais. Ele toca a estremecida e macia pele da jovem, conduzindo os cabelos ao seu debilitado olfato e assim trazendo o mais puro odor combinado ao desespero e pavor, arrisca uma palavra, já não tinha mais a mesma facilidade em falar como outrora, o tempo passado na escuridão é cruel, selvagem, e ainda assim em tom de arrependimento ouve-se um pedido de desculpa mudando completamente a cena anterior. Piedade não é a palavra certa que descreve o momento, talvez compaixão, os sentimentos aflorados naquele instante já lhe fizeram sentido um dia, guiado agora pela jovem ele se move lentamente em direção a saída do beco, a cada passo sua postura corcunda vai deixando de existir, a jovem retira sua capa aos cuidados permitindo assim que o escuro onde por um longo tempo foi sua casa, seja invadido pela luz que aos poucos revelaria a face...de um homem.

Por: Gustavo Penna