terça-feira, 8 de dezembro de 2009

' No Teto do Mundo


Tento me acalmar, o corpo congelado não me ajuda escrever, preciso pensar, por mais difícil que seja me concentrar devo manter a respiração neste ar rarefeito, talvez suporte o frio por mais esta noite, talvez sinta meu corpo ao amanhecer... Será que eles estão bem?
 Na zona da morte (altitude acima de 8000m) não existe época calma, a fúria de sagarmatha (o Rosto do Céu) é revelada através dos ventos de 160 km/h que possivelmente foram os culpados da nossa separação, culpados por me deixar na mais alta solidão da terra, ah... Talvez a culpa seja somente nossa, querendo provar a onipotência perante a mãe do universo ignorando o lado escuro existente nos extremos da natureza.
 (Delírio e alucinações); vozes? Ouço vozes? Serão eles...? Eles quem? Não espero visita há anos, estou sozinho em 'casa', porque a grama é tão branca? Porque minha 'casa' é tão pequena? Dormir... Não consigo dormir.
 Preciso respirar, preciso de oxigênio, um Diamox deve ajudar, não posso abrir minha ‘casa’, tomarei sem água, o sangue impulsionado ao cérebro me mantém vivo, dores de cabeça constante, vômito, insônia, frio, hoje completa o terceiro dia, não, na verdade já faz quatro dias... Quatro dias de medo a 40 graus negativos. Na morada dos Deuses pago o preço de um sonho, fecho os olhos e me entrego à próxima tempestade, o vento grita como se quisesse expulsar todos os que tentam escalar o teto do mundo, o branco da neve que pra muitos simboliza a paz me cerca arrancando as mínimas esperanças que ainda tenho. Espero acordar amanhã e amassar esta folha, pra que não saibam da angústia a qual passei, mas caso estejam lendo... Talvez não acordei.

Por: Gustavo Penna